Além de ser um dos grandes nomes do advento da Primeira Onda do Rock and Roll, ele foi um dos pioneiros do Rockabilly e também grande inflência para guitarristas renomados como George Harrison e Brian Setzer. Vamos falar do grande Carl Perkins.
Carl Lee Perkins nasceu no dia 9 de abril de 1932 em Tiptonville, Tennesse, vindo de uma família de fazendeiros muito pobre. Tendo crescido ouvindo os Negro Spirituals cantados pelos negros apanhadores de algodão, o pequeno Carl começou a ter interesse emtocar guitarra. Como seu pai era muito pobre para comprar o intsurmento, o jeito foi fazer uma guitarra artesanal feita de caixa de cigarros, galhos e embrulhode papel. Aos 7 anos, ele já era exímio guitarrista. Ouvia muito aos programas de Roy Acuff e shows do tradicional Grand Ole Opry no rádio. Com essa mistura de influências, Carl e alguns de seus contemporâneos começou praticar uma música que tinha um pouco de Country e R & B, que acabou sendo chamado de Rockabilly (“Rock caipira” numa tradução mais cabal). Um grande guitarrista que foi outro de seus influenciadores foi o cantor e guitarrista Bill Monroe (1911-1996), com quem aprendeu a tocar de um modo rápido e seu estilo de cantar.
Aos 14 anos, tinha um jeito aprimorado de tocar e compôs a música Movie Magg. Não demorou para que ele e o irmão Jay começassem a tocar numa taverna ao sul de Jackson. Isso começou a mudar um pouco a situação financeira da família. O sucesso dos irmãos Perkins foi tanto que logo estavam tocando em outros bares e tavernas da cidade. Carl conseguiu persuadir seu irmão Clayton a entrar no grupo tocando rabecão. Começou a tocar frequentemente na estação de rádio WTJS-AM. Ele e seus irmãos logo estavam tocando nos programas do Grand Ole Opry e ao final da década de 40 tinham reputação como ótimos músicos locais. Mas naquela época, música não era uma fonte de renda tão proveitosa e Carl tinha um emprego nos campos de algodão.
Em 1953, ele se casou com a namorada Valda Crider que o convenceu a tocar em tavernas em período integral. Chamou o baterista W. S. “Fluke” Holland para reforçar a banda. Um amigo chegou gravar uma apresentação deles e mandou a fita para a Columbia e RCA. Mas nunca houve um retorno por parte daquelas gravadoras. Certa feita, enquanto ouvia o clássico Blue Moon of Kentucky tocado por Elvis Presley, Scotty Moore e Bill Black, ele entendeu que o tipo de música que ele tinha em mente tinha tudo para ser um sucesso. Sendo assim, Perkins Brothers foram para Memphis fazer um teste da Sun Records. Depois de tocar Movie Magg e Turn Around para Sam Phillips, eles foram aceitos e as músicas do teste foram lançadas como um single de sucesso regional. Carl conheceu Elvis e Johnny Cash durante alguns shows de artistas da Sun. O próximo sucesso regional de Perkins para a Sun foi Gone, Gone, Gone.
Em 1955, Carl escreveu aquele que seria um grande clássico do Rock and Roll, Blue Suede Shoes, que foi um bombástico sucesso no ano seguinte. Com a ida de Elvis para a RCA, a Sun começou a apostar em Carl Perkins para ser o novo “Rockabilly Cat”, o astro da casa. Ele foi o primeiro artista de Country a ter um terceiro lugar nos charts de R & B e seu disco foi Top 10 nas paradas britânicas. Seu lado B, Honey Don’t, influenciou um monte de garotos que estavam formando suas bandas por lá, dentre os quais um grupo de Liverpool chamado The Quarrymen.
Aquele ano cheio de consuistas e reconhecimento teve um acidente trágico. Enquanto estava indo para Nova York para apresentar Blue Suede Shoes no Perry Como Show, o carro que levava a banda bateu num caminhão, deixando todos com graves ferimentos. Carl ficou inconsciente e seu irmão teve muitas fraturas, vindo a falecer pouco depois. Enquanto se recuperava dos ferimentos, Carl recebeu a visita de Scotty Moore, Bill Black e DJ Fontana, músicos que acompanhavam Elvis, seu amigo. O Rei do Rock mandou um abraço fraternal e votos de recuperação. Embora Blue Suede Shoes tenha sido um sucesso de costa a costa, inclusive jogando para o segundo lugar nas paradas Heartbreak Hotel, o disco de estreia de Elvis na RCA, ironicamente, a música acabou consagrando o Rei do Rock. Carl Perkins tinha estourado com o clássico Blue Suede Shoes em 1956, mas um acidente interrompeu sua trajetória ao topo. Quando se recuperou, a versão de sua música cantada por Elvis era um grande sucesso e partir disso nunca mais conseguiu colocar uma composição no primeiro lugar dos charts. No meio daquele ano, Carl voltou à ativa tocando na turnê Big D Jamboree. Voltou ao estúdio da Sun para gravar músicas novas.
Em sua primeira sessão, vieram à tona uma penca de clássicos perkinianos: Dixie Fried, Put Your Cat Clothes On, Right String, Wrong Yo-Yo, You Can’t Make Love to Somebody, Everybody’s Trying to Be My Baby e That Don’t Move Me. Ainda nesse ano, fez um show histórico chamado Top Stars of ’56, ao lado de Chuck Berry e Frankie Lymon & The Teenagers, onde tocaria só duas músicas. Pouco depois, ainda fez um show com o amigo Gene Vincent e seus Blue Caps mais a cantora Lilian Briggs. No fim do ano, a Sun lançou os singles Boppin’ the Blues/All Mama’s Children (canção que compôs em parceria com o amigo Johnny Cash) e Dixie Fried/I’m Sorry, I’m not Sorry. No começo do ano seguinte, saiu o single Matchbox/Your True Love. Todos os singles foram bem nas paradas mas nada comparado ao arrasa quarteirão Blue Suede Shoes.
Foi nessa época que Carl reencontrou os amigos Elvis (que fzia uma visitinha à Sun), Johnny Cash e Jerry Lee Lewis. Os quatro conversaram e brincaram e fizeram algumas jams juntos tocando algumas baladas coutry e negro spirituals. O esperto Sam Phillips não perdeu tempo e deixou os microfones ligados, captando tudo o que se passava. Mais tarde vendeu a gravação com o nome de The Million Dollar Quartet [ouça aqui uma faixa], talvez o maior encontro entre verdadeiras feras do Rock da Primeira Onda.
Nesse ano, Carl fez sua estreia no cinema ao aparecer no filme Jamboree, onde cantou seu clássico Glad All Over (uma das preferidas dos Beatles quando faziam programas na BBC), que foi lançada em single em 1958, ano que marcou o fim da ótima estada de Carl na Sun e ele assinou com a Columbia Records, onde gravou muitas músicas como Jive After Five, Rockin’ Record Hop, Levi Jacket (And a Long Tail Shirt), Pop, Let Me Have the Car, Pink Pedal Pushers, Any Way the Wind Blows (gravada por Johnny Cash), Hambone, Pointed Toe Shoes, Sister Twister e L-O-V-E-V-I-L-L-E. No ano seguinte, escreveu para o amigo Johnny Cash a música The Ballad of Boot Hill, que acabou sendo lançada pela Columbia como EP.
Naquele início de década, as grandes lendas do Rock estavam em baixa por causa do fim da Primeira Onda e Carl fazia shows em cassinos e em lugares mais interioranos durante 1962 e 1963. Carl fez uma bem sucedida turnê pela Alemanha e em 1964 chegou à Inglaterra, junto com o amigo Chuck Berry. Em seus shows pela Terra da Rainha, a dupla de guitar heroes teve como banda de apoio, The Animals.
Carl ficou sabendo que alguns de seus fãs estavam gravando um disco em Abbey Road em Londres e foi lá para conferir as sessões. Esses fãs eram nada mais nada menos que os Beatles, que naquele momento já estavam na crista da onda. Para pagar tributo ao mestre, tocaram alguns covers dele como Matchbox, Everybody’s Tryin’ to Be My Baby e Honey Don’t. Foi aí que o batera Ringo Starr convidou o mestre para cantar, no que o humilde guitarrista acrescentou: “Cara, vá em frente! Cante você!” o guitarrista George Harrison era outro grande fã declarado de Carl. Tanto que na fase Hamburgo ele usava o nome Carl Harrison em alguns shows.
Jerry, Carl, Johnny e Elvis: encontro de titãs do Rock
Em 1964, Carl Perkins e seus contemporâneos da Primeira Onda estavam mais do que nunca em evidência, graças a seus pupilos que empreenderam a Invasão Britânica, a Segunda Onda. Depois de mais uma turnê alemã, Carl voltou aos EUA, onde gravou mais um single Big Bad Blues/Lonely Heart, contando com a banda The Nashville Teens como apoio. Quatro anos depois, Carl começou a excursionar com o velho amigo Johnny Cash e acabou se envolvendo com drogas e bebedeiras também. Nessa época, Cash gravou uma composição de Perkins, Daddy Sang Bass, que acabou ficando nos primeiros lugares dos charts de country norte americanos. Carl também participou do grande hit do amigo, A Boy Named Sue, tocando guitarra.
O resto da década foi cheia de jams e participações de gravações e programas de TV com Cash, Derek & The Dominoes, Jose Feliciano e Merle Davis, entre outros. Cantou sua Restless num programa apresentado por Johnny Cash e em 1969 fez uma inusitada parceria com Bob Dylan na música Champaign, Illinois. Dylan tinha escrito o primeiro verso, mas sua inspiração travou. Aí deixou Perkins terminá-la. No ano seguinte, sua composição Rise and Shine chegou ao Top Ten, interpretada por seu irmão Tommy Perkins. A década de 70 tambémmarcou uma disputa judicial com Sam Phillips por royalties de suas músicas em sua fase Sun Records. Carl saiu vencedor.
A década de 80 recebeu um Carl mais nostálgico, fazendo shows com contemporâneos e pupilos. Participou do disco de Paul McCartney, Tug Of War (1981) na faixa Get It, composta em parceria com o ex-Beatle, música que termina com uma gostosa gargalhada do mestre. Outra parceria dos dois, My Old Friend, só foi lançada mais tarde no disco de Carl Go Cat Go.
Quando houve um verdadeiro revival dos Rockabilly na década de 80, Carl estava em grande evidência, gravando junto com Lee Rocker e Slim Jim Phantom (baixista e baterista dos Stray Cats) uma parte da trilha sonora do filme Porky’s Revenge em 1985 [aqui, a trinca toca o clássico-mor Blue Suede Shoes]. Nesse mesmo ano, ele foi introduzido no Nashville Songwritters Hall of Fame.
Em 1986, reuniu seus pupilos Dave Edmunds, George Harrison, Eric Clapton, Ringo Starr, Slim Jim Phantom mais Rosanne Cash num especial televisivo chamado Blue Suede Shoes: A Rockabilly Session [que foi lançado em VHS e depois em DVD], onde o grande guitarrista tocou 16 de seus grandes clássicos. Gravou com os velhos parceiros de Sun Records Johnny Cash, Jerry Lee Lewis e Roy Orbison o disco Class of ’55, que chegou às paradas de sucesso. Em 1987, ele entrou para o Rock and Roll Hall of Fame e para o Rockabilly Hall of Fame, duas grandes honrarias. Em 1989, ele coescreveu e tocou guitarra na gravação de Let Me Tell You About Love, música do grupo de Country The Judds que alcançou o primeiro lugar nas paradas. Nesse ano, fez um acordo com a Platinum Records para o projeto de um álbum chamado Friends, Family, and Legends, apresentando performances de amigos como Chet Atkins, Travis Tritt, Steve Wariner, Joan Jett e Charlie Daniels junto com Paul Shaffer and Will Lee.
Em 1992, enquanto estava elaborando esse disco, Carl descobriu que tinha câncer na garganta. Não deixou-se esmorecer e continuou trabalhando nesse e outros projetos como o memorável álbum chamado 706 ReUNION pela Belle Made Records, onde tocou com seu amigo Scotty Moore (primeiro guitarrista de Elvis). Participaram também o batera DJ Fontana e o grupo The Jordanaires, que também trabalharam com o Rei do Rock. No ano seguinte regravou seu clássico Dixie Fried ao lado da banda Kentucky Headhunters.
Em 1994, uniu-se ao guitar hero da Primeira Onda Duane Eddy e a banda The Mavericks para regravação de outro de sues clássicos, Matchbox para uma campanha contra a AIDS. Em 1996, foi lançado seu derradeiro álbum Go Cat Go, pelo selo independente Dinosaur Records e distribuído pela BMG, onde contou com a participação de feras como George Harrison, Paul Simon, John Fogerty, Tom Petty e Bono Vox (U2). Em 1997, fez seu último grande show ao vivo no evento beneficente Music for Montserrat, que contou com os amigos Paul McCartney, Phil Collins, Sting, Ray Cooper, Elton John, entre outros.
No dia 19 de janeiro de 1998, o grande guitarrista e cantor perdeu a batalha para o cãncer e veio a falecer aos 65 anos, deixando uma lacuna que dificilmente será preenchida. Ainda que bem que pôde colher reconhecimento e homenagens ainda em vida, mas muitos de seus admiradores (sou um deles) sentem-se órfãos de seu talento e virtuosismo. Sua grande parceira e companheira de vida, Valda Perkins faleceu em 2005. Para finalizar, dois de seus clássicos que foram interpretados pelos Beatles na BBC, Lend Me Your Comb e Sure to Fall.